18 agosto, 2016

SAUDADES DA REPÚBLICA VELHA (ou: DOIS EXEMPLOS DE COMO LÁ VEM NABO NO (DES) GOVERNO TEMER)

Duas mostras da seríssima série "O que estiver rui, tende a piorar"...
Primeiro, transcrevo a seguir crítica de Marcelo Lyra sobre o livro Quando o Caso É de Cinema, a Paixão é um Festival, do doutor (SIC) Alfredo Bertini. Para quem voltou de Marte hoje etc., etc.: ele é criador do Cine PE e atual secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura. Carlos Alberto Mattos já transcreveu este texto em seu blog, mas preferi fazê-lo direto do Facebook de Lyra.
(Apenas para ver que o nabo no audiovisual está pronto; só falta ser introduzido em nossos subilatórios... Os grifos são meus.)

A ARTE DE AMAR CINEMA SEM AMAR FILMES
Esta é uma crítica ao livro “Quando o Caso É de Cinema, a Paixão é um Festival”, de Alfredo Bertini, criador e diretor não assumido (atualmente quem responde oficialmente é sua mulher Sandra) do Cine PE, festival de cinema do Recife. Acho que para meus amigos do meio cinematográfico, pode ser interessante saber o que pensa e como age o homem que hoje comanda a política cinematográfica do Brasil, ocupando o cargo de secretário do Audiovisual, mesmo sem ter conhecimento e capacidade para tanto. Para quem não é do meio, acho interessante observar como um livro é escrito para tentar mostrar a todos seu amor pelo cinema e o resultado, na prática, acabe sendo a prova de que esse amor não existe, ou seja, que seu autor é mesmo um empresário que viu no cinema a chance de ter prestígio e ganhar dinheiro.
Nesse texto, vou procurar mostrar todos os momentos em que ele mesmo se entrega, evitando juízos de valor e remetendo sempre às páginas do livro em questão. Deixo claro que não é um problema ser empresário e querer ganhar dinheiro com cinema. Raquel Hallack, diretora do Festival de Tiradentes é igualmente empresária sem grandes conhecimentos cinematográficos. Mas ela logo percebeu a importância da seriedade na escolha dos filmes em exibição. Para tanto contratou um crítico de cinema conhecido e respeitado, Cléber Eduardo, para a curadoria. Isso é sinal de respeito para com o público que frequenta o festival, para a formação desse público e para que o festival cumpra sua função de ser um espaço para a exibição e discussão de filmes, de linguagem e, principalmente, de divulgação cultural.
Acho que festivais tem de agir assim também por respeito com o dinheiro público usado na realização do festival, captado por intermédio das Leis de Incentivo. Não por acaso, Tiradentes é referência nacional quando o caso é de cinema, enquanto o Cine PE é apenas um festival que é referência quando o caso é de festa.
O objetivo aqui não é denegrir a imagem de Bertini, mas torcer para que ele corrija seus rumos e conceitos de cultura, o que seria ótimo para Pernambuco, para o próprio Cine PE e também para a secretaria do Audiovisual. Pessoalmente acho pouco provável que isso ocorra. Já critiquei algumas vezes o festival de cinema do Recife. E pelo mesmo motivo: sempre me incomodou o fato dos organizadores (leia-se Alfredo Bertini e sua mulher Sandra), terem tudo para fazer um grande festival, inclusive boa condição financeira, mas conseguirem apenas um evento pífio, geralmente com muitos filmes mal escolhidos, de má qualidade, que no final mais espantam o público do cinema brasileiro do que estimulam sua apreciação. Por não ter nenhuma formação cinematográfica, talvez nem cinefilia, Bertini não valoriza o trabalho de curadoria, seleção de filmes e nem mesmo júris. Os filmes exibidos quase sempre são escolhidos pelo próprio Bertini. Recentemente tentaram uma curadoria, mas não melhorou muito. Já os júris algumas vezes costumam mesclar convidados que não recebem nem cachê com gente sem a menor condição. Radialistas professores e outros tipos de profissionais são comuns nas composições de júri. Bertini não entende que gente de fora do meio normalmente atrapalha o debate num júri quando o caso é dar prêmios de montagem, roteiro, direção...
O irônico é que ele faz bem o mais difícil. A infra estrutura do festival é excelente. Ok, é o mínimo que se espera de um empresário, mas não há como negar que é organizado. Infra-estrutura razoavelmente eficiente, passagens de avião para dezenas de convidados, hospedagem em hotel cinco estrelas para todos, uma sala de exibição incrível, com capacidade para quase três mil pessoas, o que o torna o maior do Brasil (em termos de volume, claro). No entanto O Cine PE nem é citado no meio cinematográfico quando se fala em termos culturais, de discussão de cinema, bons debates. Nesses quesitos, essenciais para a cultura, os nomes que surgem imediatamente são os festivais de Brasília e Tiradentes.
O segredo do fiasco cultural do Cine PE está no fato de seu criador, Alfredo Bertini, ser um empresário da área econômica, com ligações na área de turismo e presença ativa no futebol (foi inclusive diretor do Sport Recife), mas total incapacidade quando o caso é de cinema. Ele não tem a menor noção do cinema enquanto forma de arte, da função do cinema como manifestação artística (a análise do seu livro, mas abaixo, deixa isso claro). Para ele, o cinema é como futebol: a pessoa senta, assiste, se diverte ou não e pronto.
O problema é que ele se considera um grande entendedor do assunto, ao ponto de escolher filmes. Pior que isso, é centralizador, autoritário e principalmente, incapaz de entender, sequer aceitar, algum questionamento ou crítica, mesmo construtiva.
Basta lembrar uma edição recente do Cine PE, em que um jornalista presente ao debate sobre o filme da noite anterior questionou o diretor convidado por Bertini e teve sua credencial apreendida, sendo impedido de participar de outros debates.
Boca livre
Eu mesmo escrevi um artigo anos atrás, criticando a baixa qualidade dos filmes escolhidos para o festival, geralmente escolhidos pelo próprio Bertini sem nenhum critério exceto o de ser filme de diretor amigo, ou ligado a pessoa influente no meio cinematográfico. Nunca mais fui convidado para o Cine PE (o que eu esperava), e para nenhum dos festivais amigos dele, a maioria integrante do Fórum dos Festivais, que permite que os diretores de festivais de todo Brasil paguem passagem e hospedagem uns dos outros, incentivando o turismo de todos. “Coincidência” ou não, também nunca mais fui chamado para escrever na Revista de Cinema (era colaborador regular antes disso), afinal o editor Hermes Leal depende dos festivais (pontanto é amigo da casa) e a revista acaba sendo chapa branca nesse sentido.
Recentemente Bertini foi indicado por um ministro da cultura tão despreparado quanto ele, ao cargo mais importante do cinema brasileiro, a Secretaria do Audiovisual. Pouco depois de assumir, indicou para dirigir a Cinemateca Brasileira Osvaldo Massaini Neto, amigão de sempre, mas tão nulo quanto ele quando o assunto é cinema. Foi produtor executivo ou assistente de três pornochanchadas. Para a comissão que escolherá o filme indicado pelo Brasil ao Oscar, colocou um dos piores críticos do mercado, Marcus Petrucelli, que nem chega a ser crítico. Comenta filmes na rádio CBN, com a profundidade de um pires.
Por conta disso, resolvi ler com mais atenção o livro de sua autoria “Quando o Caso é de Cinema, a Paixão é um Festival”, que ele mandou publicar em 2006, por ocasião das comemorações dos dez anos de Cine PE. Na época do lançamento tinha lido umas dez páginas e abandonado, por achar muito medíocre. Mas agora que ele é secretário, vale fazer uma crítica ao livro, perfeita tradução da personalidade limitada e centralizadora de seu autor. Depois dessa longa introdução, vamos ao livro.
Quando o caso é de cinema...
Logo de cara esse título esquisito “Quando o caso é de cinema, a paixão é um festival”. Os amigos que o cercam devem ter achado genial e assim ficou, mas não faz muito sentido. Na primeira página, ele dedica sua ‘obra’ ao “Rei Pelé”, assim mesmo, com aspas, seguido da justificativa “que sem saber das minúcias de uma história pessoal, transformou-se num personagem vital de todo o enredo, o que reforçou a minha idolatria por esse mito universal”. Sem querer, ele já começa a entregar suas limitações, o que vai ser uma característica do livro todo. Um diretor de festival de cinema que dedica seu livro sobre cinema a um jogador de futebol só mostra como é de fachada sua propalada paixão pelo cinema. E o que ele quer dizer com “sem saber das minúcias de uma vida pessoal...”? Pelé deveria saber de sua existência?
No livro é dito que a tentativa frustrada de trazer Pelé para um evento no Recife fez com que Bertini conhecesse Aníbal Massaini, produtor que o introduziu no mundo cinematográfico, mas por conta desse acaso ter toda a gratidão pela existência do festival é mais uma prova da limitação cultural de seu realizador.
O livro é de uma verborragia abundante, sempre dizendo em cinco linhas o que pode ser dito em uma, introduzindo cada assunto com explicações aborrecidas e informações que geralmente só interessam a ele. Mas vou deixar isso de lado e me ater apenas aos momentos que evidenciam sua falta de ligação com o cinema e consequente incapacidade para o cargo que ocupa.
Na página 17 ele afirma “A tarefa de escrever um livro não corresponde a um mérito individual. Afinal, toda forma de expressão de arte (sic) depende fundamentalmente de uma série de pessoas e instituições”. Não vou comentar a pretensão de considerar seu livro uma ‘expressão de arte’. O que importa é que no mundo real poucas expressões artísticas dependem de uma série de pessoas. Para pintar um quadro, o artista plástico depende só dele. Basta uma tela e tinta. Um músico em casa, compondo uma melodia, depende de quem? Manuel Bandeira dependia de alguém para escrever poesias? Bertini certamente escreveu isso porque, em sua simplicidade, ouviu os diretores de cinema afirmando nos festivais que filmes dependem de uma série de pessoas (o que é verdade para o cinema, e Orson Welles já dizia isso), achou bonito e resolveu repetir a frase, incapaz de entender que na literatura ela não faz sentido.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, as lembranças da juventude e o surgimento da ‘paixão’ pelo cinema, que veremos só existir nas palavras. Na segunda parte, detalha-se como o festival surgiu.
Gosto refinado
O lema do livro é algo como faça o que escrevo, não o que eu faço. Falando sobre sua juventude, lamenta não ter idade para participar das manifestações dos festivais contra a ditadura militar nos anos 60 (pág 24). Na prática, o que vemos é que Bertini foi dos primeiros a pular nos braços do governo Temer assim que este tomou o poder, ganhando como prêmio a secretaria do Audiovisual.
Na mesma página lembra sua professora do ginásio (atual ensino fundamental), que lhe teria proporcionado “o gosto refinado para ler e escrever de forma diferenciada”. ‘Dom Casmurro’ teria sido sua “estreia entusiasmada” na literatura. E disso teria resultado sua “preocupação permanente com o estilo e a gramática”. Essas afirmações não resistem à leitura de uma página do livro, como veremos a seguir.
Ele conta que sua introdução no mundo do cinema ocorreu aos dez anos de idade, quando o pai, depois de um jogo do Sport, o levou ao cinema para assistir ao documentário “Brasil Bom de Bola”, de Carlos Niemeyer, sobre a conquista da Copa do Mundo de 1970. Anos depois teria assistido “Isto é Pelé”, de Luiz Carlos Barreto. Assim teria surgido sua paixão pelo cinema: assistindo dois documentários de futebol.
Segundo o livro, ao assistir aos trailers dos filmes estrangeiros (repito, os trailers, não os filmes, nem isso ele assistiu), odiou ter que ler as legendas. Afirma isso duas vezes na página 28 e mais duas vezes na página 29. E a seguir tenta atribuir a esse repulsa às legendas a co-responsabilidade por sua defesa pelo cinema nacional. Ou seja, ele gostava de filme brasileiro por preguiça de ler as legendas, mesmo que poucas páginas antes garantisse que a leitura de Dom Casmurro foi sua ‘estreia entusiasmada na literatura’.
Para que filmes?
Nas páginas 30 e 31 fala de sua paixão pelas salas dos antigos cines Atlântico e Trianon. Diz que os frequentava, mas não cita um filme que tenha sido marcante. Suas referências a cinema são salas de exibição, festivais e até passeios para compras em Tiradentes (págs 93 e 94). Nunca filmes. É um caso curioso de paixão por cinema que não envolve filmes.
Mais adiante, lembra que o pai o levou a conhecer a sala de projeção do Cine Trianon e ele lembra muito do projetor, mas nada dos filmes que teria assistido. Conta que conheceu o projecionista, que era “grisalho, sempre de barba por fazer e que gostava de tomar umas doses a mais”. Compara a relação dos dois com a do menino de “Cinema Paradiso”.
[NOTA MINHA: Ai, que pecado com um dos meus filmes favoritos!...] Finalmente, depois de quase um terço do livro percorrido, Bertini cita um filme de ficção. 
O tal projecionista o teria ensinado a fazer um pequeno projetor de brinquedo, com uma caixa de sapatos, pedaços de filme e uma lâmpada. Ao fazer o projetor, o menino Bertini não pensa em mostrar cinema para os amigos mas anima-se com a possibilidade de “Chamar a vizinhança e cobrar ingressos” (página 33). Ou seja, desde pequeno, o interesse pelo cinema era financeiro, não cultural.
Na adolescência, exalta o prazer de fazer conchavos com o porteiro do cinema para assistir pornochanchadas. Novamente não cita filmes, apenas o desejo de ver Vera Fischer nua (pág 35).
Nada de blockbuster
Já adulto, afirma: “os cinemas de ponta raramente permitiam assistir filmes de Fellini, De Sicca (sic), Gasman (sic), Antonioni ou Bergman, cujos filmes para mim já eram bem mais atraentes do que os ‘blockbusters hollywoodianos’”. Vale lembrar que nos anos 70, os blockbusters hollywoodianos não eram tolices comerciais como agora, mas muitas obras primas como “O Poderoso Chefão”. Deixemos de lado o fato dele incluir o ator [Vittorio] Gassmann (que até dirigiu filmes, mas poucos e sem destaque) em meio a diretores importantíssimos. Pelo que deu para sentir até agora em seu livro, é difícil acreditar que ele gostasse tanto desses diretores. Mais parece que os citou para impressionar. Tanto é que não cita sequer um filme deles. Gostaria muito de ver um debate de algum crítico com ele sobre a obra desses quatro diretores.
Na página 37 finalmente começa a falar da criação do Cine PE. Em 1994, como secretário adjunto de Indústria, Comércio e Turismo do estado de PE, soube que Pelé tinha se casado com uma pernambucana e que estava lançando uma feira com seu nome em São Paulo. Viajou para lá numa tentativa frustrada de atrair o evento para Recife e acabou conhecendo Aníbal Massaini, da Cinedistri, segundo ele “produtora de muitos filmes que assisti no cine Atlântico”. Novamente não cita filmes, mas sabia qual era a produtora deles.
Não conseguiu levar para Recife nem Pelé nem o evento, segundo ele porque “aspectos como a composição societária e o mercado não davam muita margem de confiança para conquistar o projeto”, (pág 39) seja lá o que isso quer dizer. Frases como essa povoam o livro do homem que tem ‘preocupação permanente com o estilo e a gramática’. Uma coisa se pode afirmar: ele é muito bom na arte de falar muito sem dizer nada.
Muito hábil também na arte de se aproximar de pessoas com algum poder do qual possa tirar proveito, tratou de ficar amigo de Massaini, oferecendo-se para facilitar a captação de recursos em Pernambuco para o remake de “O Cangaceiro”, que estava em fase de pré-produção. Claro que Massaini topou e começou aí uma pequena parceria.
Detalhe: Bertini refere-se ao “Cangaceiro” de Lima Barreto como “Uma obra prima vencedora do Festival de Cannes na década de 50”. Essa é a única vez que dá opinião sobre um filme no livro inteiro (isso num livro sobre cinema), e já comete dois equívocos na mesma frase. “Cangaceiro” não ganhou o prêmio principal de Cannes, mas sim o prêmio da categoria “Melhor filme de aventura”, o que é bem diferente.
Depois, quem conhece um mínimo de cinema sabe que “Cangaceiro” está bem longe de ser uma obra prima. Trata-se de uma imitação do estilo dos faroestes americanos (até os índios são mostrados como os americanos e os tiroteios seguem a receita de Hollywood). É um filme sem personalidade, bem feito e só.
Mais adiante, afirma que “cansou de ver filmes da Cinedistri do Massaini” (pág 43) no Recife. Não conheço nenhum cinéfilo que diga “Cansei de ver filmes do Fellini”. Eu mesmo jamais diria “Cansei de assistir a filmes do Hitchcock, embora tenha assistido a todos mais de uma vez e anos atrás revisto todos de novo para preparar um curso sobre ele. Mas como Massaini produziu muitas pornochanchadas, incluindo “A Super Fêmea”, que trazia Vera Fischer nua, pode ser isso o ‘cansei de ver’.
De qualquer forma, o ‘cinéfilo’ Bertini lembra a produtora dos filmes que cansava de ver, mas não cita nenhum filme. Já quando fala de Pelé, Bertini cita até a sala do hotel Sheraton, em SP, onde o encontrou (pág 39).
Como uma mão lava a outra, recentemente Bertini, já como secretário do Audiovisual, indicou Osvaldo Massaini Filho para dirigir a Cinemateca Brasileira. Como bagagem cinematográfica, Osvaldo cansou de produzir pornochanchadas: produziu como assistente ou produtor executivo apenas três filmes na vida toda, todos pornôs, alguns com nomes bem sugestivos para o atual momento político brasileiro, como “Os Bons Tempos Voltaram, Vamos Gozar Outra Vez”.
Uma mão lava outra
Resumindo, Massaini conseguiu apoio em Pernambuco para fazer seu filme e como uma mão lava outra, conseguiu um convite para Bertini conhecer o festival de Gramado, no que viria a ser a gênese do Cine PE. Acho curioso que um produtor tenha poder para indicar convidados para Gramado, mas deixemos isso de lado. O que importa é que Bertini foi a Gramado e nas lembranças da viagem fala apenas que “Conheceu de perto a força do evento, particularmente no sentido econômico e na visão de marketing” (página 44). Nem uma linha para falar dos filmes que assistiu, debates que participou. Na mesma página, a gênese do Cine PE: “Ao conhecer a apresentadora do festival, Vera Armando, ela fez a pergunta fatal: “Porque Recife não tem festival de cinema?”. A ficha caiu, provavelmente com o “tlin!” de uma caixa registradora. Modestamente ele afirma “Uma via difícil e bastante tortuosa se desenhava na minha frente. Só mesmo a obstinação e a vontade de empreender foram capazes de me estimular”.

Segunda parte: ‘causos pitorescos ou engraçados’

A segunda parte do livro limita-se a contar histórias que ele considera engraçadas ou pitorescas. É a maior parte do livro (54 páginas, contra 44 da primeira, contando só o que é escrito por ele).
São quinze historinhas que ele considera hilárias, sem entender que muita coisa só tem graça na hora, para quem viveu. Contadas depois perdem a graça. Por exemplo, num traslado de convidados do cinema para o hotel, tarde da noite, alguém foi ao banheiro do ônibus e, com dor de barriga, um cheiro se espalhou pelo ambiente. Segundo ele, foi hilário esperar para ver quem era o ‘autor intelectual daquela obra’ (pág 81). Ele nem deveria rir disso. O sujeito provavelmente passou mal com comida fornecida pelo festival. Há uma segunda história envolvendo gases intestinais, dessa vez ocorrida no festival de Tiradentes, durante um passeio de compras.
A maioria dos causos são incidentes como o carro enferrujado da produção ser parado pela polícia e o motorista reclamar da organização pelo rádio, sem saber que Bertini estava próximo ouvindo, ou quando conta que, em Gramado, chamava a produtora Liege Nardi de ‘Lombardi’, porque sabiam que ela existia, mas nunca era vista. Coisas realmente muito engraçadas e pitorescas.
Quando as histórias envolvem confusões com nomes trocados, ele só conta as ocorridas em outros festivais, o que não deixa de ser mais um traço da sua personalidade se revelando. Por exemplo quando o Festival de Vitória colocou no mesmo quarto o Sr. Francisco e um tal de Clóvis (em festivais, é comum que dois convidados dividam o mesmo quarto). Só depois foram perceber que o Clóvis na verdade era Cloris, a diretora do festival de Curitiba (pág 86). Ou, no festival Guarnicê (Maranhão), a apresentadora chama “o Sr. Fulano, do Rio de Janeiro, e o diretor do festival corrige ao vivo “Ele é do Ceará”! Aqui posso dar um testemunho: eu pessoalmente vi falhas parecidas nas cinco ou seis edições do Cine PE que frequentei. Mas Bertini prefere contar falhas dos outros.
Também não há uma linha sobre Isaac Kelner, sócio que ele tinha nos primeiros anos do festival e que ajudou na criação do evento. O nome dele nem é citado. Depois que Isaac morreu houve algum desentendimento com a família, pois o evento, que se chamava Festival de Cinema do Recife, teve que mudar o nome para Cine PE. Nem para explicar porque o festival mudou de nome o livro serve.
Pimenta no dos outros...
Quando vai contar uma falha ocorrida com o Cine PE ele faz questão de justificar bastante antes. Em 2003 Hugo Carvana ficou irritadíssimo com o atraso de mais de uma hora na exibição de seu filme “Apolônio Brasil”, que fez com que quase duas mil pessoas desistissem de esperar e fossem embora. Na hora da apresentação, Carvana criticou duramente a organização. Antes de contar essa história, Bertini gasta duas páginas para explicar o atraso, culpando o trânsito e (inacreditável!) a “baixa disciplina por parte dos convidados no cumprimento dos horários”. Culpa os convidados duas vezes, nas págs 104 e 105. Ou seja, a culpa é do trânsito e dos convidados que atrasam tudo, nunca dele.
O mais curioso é que segundo ele a equipe do estival tentou impedir a debandada do público explicando a importância do filme, mas o próprio Bertini não viu a cena, pois ele mesmo, o apaixonado por cinema, tinha ido embora descansar “Antes que a nitroglicerina pura se esvaísse” (pág 107). Acho que ele queria dizer ‘antes que a nitroglicerina explodisse’.
No prefácio assinado por Maria do Rosário Caetano, a história já tinha sido contada, também passando panos quentes, pois tudo teria ficado bem no dia seguinte, quando Carvana se desculpou na coletiva.
Em uma das edições, o homenageado foi justamente Pelé. Que festival de cinema é esse que em uma edição homenageia um jogador? Isso só é mais uma prova de que o Cine PE atende mais os interesses políticos e financeiros de seu idealizador.
Resumindo, todo livro parece um esforço de Bertini no sentido de mostrar sua paixão pelo cinema, mas o que mais se percebe é a total ausência dessa paixão. Trata-se de um empresário que viu no cinema uma forma de ganhar dinheiro. Isso não seria problema se o festival fosse sério, criterioso na escolha de comissões de seleção e júris. Mas ele não está muito interessado nisso na maior parte das vezes. Nas que fui, a maioria dos filmes era escolhida por ele, dando preferência a filmes de amigos ou de diretores ou produtores influentes. Os jurados são convidados para julgar os filmes, mas avisados que não existe cachê para isso. Eu mesmo já fui membro do júri, sem cachê, apenas pelo prazer de participar dos debates e tentar fazer uma premiação justa, como quase todos convidados ligados ao cinema.

E depois tem gente que duvida que uma política de estímulo ao audiovisual brasileiro, desenvolvida (com seus muitos acertos e alguns erros) nos últimos 12 anos corre risco...

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A segunda mostra: trechos de entrevista do SS-Reichsführer... digo, do ministro da (Falta de) Justiça do governo (SIC) Temer, Alexandre de Moraes, ao jornal O Tempo:

Rio de Janeiro. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que o Brasil precisa de menos pesquisa em segurança e mais armamento. Em entrevista concedida na Cidade da Polícia, zona Norte do Rio, o ministro afirmou que a prioridade do Ministério da Justiça, nesse momento, é investir em “equipamentos para inteligência e equipamentos bélicos”.
Moraes criticou os investimentos do governo federal nos últimos anos em diagnósticos de segurança pública. “Tem especialista que nunca trabalhou em segurança pública, mas, de alguma forma, vira especialista, que cobra viagens internacionais para aprender não sei o quê”, disse o ministro.
Segundo Moraes, o Ministério da Justiça vai priorizar a aquisição de equipamentos para as polícias durante a sua gestão, que começou em 12 de maio, quando tomou posse no governo do presidente em exercício, Michel Temer, empossado após o afastamento de Dilma Rousseff do cargo.
Ele disse que já pediu à comissão orçamentária da pasta para “alterar várias rubricas”, para poder concentrar ações no que chamou de fortalecimento da polícia.
Disse também já haver redigido um decreto que deve ser publicado até o fim do mês para permitir que policiais utilizem armamento apreendido com criminosos, após um processo de legalização. O decreto também diminuirá o tempo de espera para a compra de armas oficiais.
Moraes lamentou a “burocracia” que envolve esse processo. “Não é possível que se aguarde nove meses para comprar fuzis”, disse Moraes, lembrando que hoje as armas apreendidas têm de ser destruídas pelo Exército. (...)
(...)
“Segurança pública não é só uma questão de polícia, é um erro culpar a polícia pelas questões de criminalidade”, afirmou o ministro, ressaltando a importância de agir com rapidez e inteligência.
O ministro citou como exemplo de eficiência a investigação da morte do soldado da Força Nacional de Segurança Hélio Andrade, morto semana passada ao entrar por engano na Vila do João, favela da zona Norte. Andrade estava no Rio para reforçar o esquema de segurança da Olimpíada. Os criminosos, no entanto, ainda estão soltos.
Isso não lhes parece uma versão 2.0 da célebre frase favorita dos nazistas Quando ouço a palavra cultura, saco logo meu revólver? Ou a m... pronunciada leo general Milan Astray, durante a Guerra Civil Espanhola: Abaixo a inteligência! Viva a Morte!Eu já tive o (des)prazer de comentar ambas as frases em um post anterior.
(Ou será que tais pesquisas vão chegar à conclusão de que a verdadeira causa da grande criminalidade está em Brasília, nas chamadas instituições, quase que completamente carcomidas de corruptos e colarinhos brancos, e o sinistro... digo, o ministro Alexandre quer evitar?)
Então fica combinado assim: a partir de agora, vamos combater a criminalidade na base do "mais perdidos do que cegos em tiroteio". Pra que pesquisas e diagnósticos sobre a violência? melhor mesmo é comprar armas e munições e gastá-las a torto e a direito - as indústrias de armamentos, (a Taurus das pistolas com defeito, mas não só ela), penhoradas, agradecem.








14 agosto, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (LI)

Sério: tô meio que preguiçoso para escrever para esta séria série. Mas vamos lá.
Hoje, uma miscelânea em homenagem às "OlimPiadas" (sim, porque uma edição de Jogos Olímpicos em que os prédios da Vila Olímpica e outras obras superfaturadas foram coladas com cuspe só pode ser "OlimPiada"...) e... à Parada Hetero.
Como diria o filósofo cearense Didi Mocó Sonrisépio Colesterol Novalgina Mufumo: cuma?
Sim, Didi, isso mesmo que você leu: Parada do Orgulho Hetero. Pra resumir: Parada Hetero.
Bateu uma preguiça...
Por isso, em homenagem aos heteros, brancos (se é que existem brancos puros, num país fruto da miscigenação...) e "cristões" (assim mesmo, sr. revisor, ao contrários dos verdadeiros cristãos, que seguem o "amai-vos uns aos outros", obrigado) – ameaçados pela "ditadura gayzista instalada no Brasil" (assim mesmo, sr. revisor, entre aspas, com direito a risos, obrigado) – transcrevo texto sobre o assunto:


“Parada Hetero Brasil”: piada pronta na internet, combate diário na vida real
Uma pagina do facebook, chamada “Parada Hetero Brasil” que já se assume em sua descrição como reacionária, certamente defende a direita golpista e privilegiada dentro da sociedade. Fez uma publicação dizendo “Você nasceu hétero”, defendendo sua posição conservadora de que todas as pessoas nasceram héteros e determinadas sexualmente. Tiveram a resposta.

Secundarista de Campinas
quarta-feira 27 de julho| Edição do dia


Porém, quando LGBT’s tiveram contato com essa publicação e com a posição da pagina que acredita apenas na família tradicional e branca brasileira como algo “normal”, mostraram que não são anormais, como defende a pagina em sua descrição “preservação do jeito normal de ser!”. Se manifestaram fazendo comentários mostrando sua indignação enquanto LGBT’s ”Olha nada contra, inclusive tenho amigos que nasceram héteros, mas eu nasci bem gay mesmo”, “meu amor, meu parto foi a preview de Born This Way, dá licença.”


A página ainda se coloca enquanto resistência dizendo “Somos Parada Hetero Brasil. Guardamos a ponte, e por nós ninguém passará, somos a resistência” Como se ser hétero ou viver dentro das normas tradicionais da sociedade fosse resistir, mudando totalmente o sentido de resistência para LGBT’s, que vivem dentro dessa estrutura social que não aceita algo que fuja de seus padrões. Ignora toda a opressão que passam gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e pessoas que não se identificam com gêneros, mas que não deixam de existir e resistir. Essas pessoas que resistem as caixinhas que são colocadas desde que nascem como: “rosa-menina”, “azul-menino”, “boneca-menina”, “caminhão- menino” são a verdadeira resistência em um mundo onde a liberdade é restrita. Sendo assim essa página entra em contradição com aquilo que defende quando diz,”lutamos por Deus, pela família tradicional, pelos bons costumes, pela liberdade individual”, sendo restrita a liberdade para quem é hétero, cristão, branco e não foge aos padrões sociais, onde fora desses muros não existe liberdade, mas apenas resistência dos que são agredidos e mortos em sua grande maioria nas periferias por uma polícia assassina.


Os comentários feitos na publicação mostram apenas como não há mais maneiras de viver dentro das caixinhas e a necessidade de romper com as estruturas em que vivemos hoje não só no Brasil, mas a estrutural capitalista de opressão e exploração, que dita como devem ser ou viver, porém não se sustenta em sua realidade!

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Voltando às "OlimPiadas". Não poderia deixar de falar da decisão do Comitê Organizador da Rio 2016 de excluir as religiões afro-brasileiras do espaço ecumênico – só o cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo e budismo, com cerimônias celebradas em português, espanhol e inglês das 7h às 22h. Motivo alegado: "Segundo o Comitê Olímpico do Brasil (COB), as religiões escolhidas representariam a maior parte dos atletas (mais de 10 mil atletas olímpicos e 4 mil paralímpicos de 200 países) e que, seria impossível contemplar todas as fés existentes". Claro, a geral reclamou, insistiu, os procuradores regionais de Direitos do Cidadão Ana Padilha e Renato Machado lembraram que "O Brasil conta com mais de 588 mil adeptos de religiões de matriz africana, sendo que o estado do Rio de Janeiro concentra significativo número de seguidores dessas religiões"Nem tchum: o doutor Carlos Arthur Nuzman nem se dignou a responder aos procuradores, nem a ninguém, e manteve o candomblé e a umbanda fora do espaço ecumênico
Para alguém como o doutor Nuzman, que falou há um tempo atrás, diante de um fracasso esportivo brasileiro, da "incapacidade congênita dos atletas brasileiros" (ou algo parecido; estou lembrando de memória – quem tiver esta fala cretina dele, poderia me mandar por favor?), isso não me surpreende.
Agora, se Silas Mala-Sem-Alça-Faia e essa catervada evangelicuzinha caça-dízimos aparecer neste espaço ecumênico, dizendo-se cristãos, para ver se consegue alguns dólares ou euros de dízimo dos atletas, vamos tacar fogo na sede do COB, certo?

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Ainda sobre as "OlimPiadas". Não poderia deixar de falar sobre o caso Joanna Maranhão.
Pra quem voltou de Marte ontem, depois de meio século de residência no planeta: Joanna é nadadora. Mas é mais conhecida por ser nome de lei: a Lei Joana Maranhão, aprovada pelo Congresso Nacional em 2012, que altera o Código Penal Brasileiro, estabelecendo que o prazo de prescrição de abuso sexual de crianças e adolescentes seja contado a partir da data em que a vítima completar dezoito anos – o principal resultado de seu desabafo: em uma entrevista para a imprensa, Joanna revelou que havia sido molestada sexualmente aos nove anos de idade pelo seu então treinador. (Ainda falaria disso – e bem mais claramente – em uma outra entrevista para a Trip.)
Trauminha pesado, que a levaria a uma queda de rendimento nas piscinas, a uma depressão e, por conta dela, a duas tentativas de suicídio, em 2013.
Ainda assim, o que Joanna conseguiu em sua carreira, superando todo esse peso, foi notável, como nos informa seu verbete na Wikipedia:

Piscina olímpica (50 metros)
Recordista sul-americana dos 200 m medley: 2m12s12 , marca obtida em 26 de julho de 2009
Recordista sul-americana dos 200 m borboleta: 2m09s41, marca obtida em 5 de setembro de 2009
Recordista brasileira dos 400 m medley: 4m38s07, marca obtida em 17 de julho de 2015
Ex-recordista brasileira dos 400 m livre: 4m12s19, marca obtida em 8 de maio de 2009
Recordista brasileira dos 800 m livre: 8m32s96, marca obtida em 18 de dezembro de 2009
Recordista sul-americana do revezamento 4x200 m livre: 8m03s22, obtidos em 8 de abril de 2015 com Larissa OliveiraManuella Lyrio e Gabriela Roncatto.

Piscina semi-olímpica (25 metros)
Recordista sul-americana dos 200 m medley: 2m09s03, marca obtida em 7 de novembro de 2009
Recordista sul-americana dos 200 m borboleta: 2m04s01, marca obtida em 7 de novembro de 2009
Recordista sul-americana dos 400 m medley: 4m26s98, marca obtida em 7 de novembro de 2009
Recordista sul-americana dos 200 m costas: 2m08s34, marca obtida em 20 de agosto de 2012
Ex-recordista brasileira dos 800 m livres: 8m32s17, marca obtida em 7 de setembro de 2004
Recordista sul-americana do revezamento 4x200 m livre: 8m01s78, obtidos em 9 de setembro de 2005, com Paula BarachoManuella Lyrio e Tatiana Lemos
Ex-recordista sul-americana dos 200 m livres: 1m57s19, marca obtida em 6 de novembro de 2009

Pois você acredita... é, você mesmo que está lendo o que escrevo nesta séria série... que, com tudo esse currículo, isso não foi o bastante para o nosso FEBABAPÁ (Festival de Babacas que Assola o País), o sucessor mais radical do celebre FEBEAPÁ (Festival de Besteira que Assola o País), de Stanislaw Ponte Preta?
Pois é. Esta é uma daquelas ocasiões em que me envergonho de ser brasileiro. Porque isso faz com que eu acabe sendo compatriota destes cretinos que ofenderam uma atleta só porque foi desclassificada numa prova de natação dessas "OlimPiadas". Quer dizer... não foi bem por isso. A eliminação foi apenas um pavio aceso para uma desforra mesquinha de cretinos de todos os quilates-mas-não-mordes – estes mesmos que acham que atleta é uma espécie de cidadão que não pode, em hipótese alguma, opinar sobre a situação de seu país. Especialmente a situação política. Foi o que ela fez num vídeo

"Hoje acordei para trabalhar, para treinar, porque o Pan-Americano está chegando aí e estou indo representar o Brasil pela quarta vez. Mas não consigo simplesmente dissociar a representatividade de eu estar vestindo a camisa e a bandeira do Brasil em um evento da América e a política do meu país – acho que são coisas entrelaçadas. Já é a segunda vez que amanheço e tomo conhecimento dessas manobras criminosas que Eduardo Cunha tem feito no Congresso, e sinto um desgosto muito grande, muito grande. A minha opinião... tem gente que discorda... não Sou a favor da redução da maioridade penal... não há nada... não há nenhum dado que me convença de que isso resolve violência... A gente sabe que no Brasil quem vai ser preso é menor de idade preto de favela... o menor infrator de família bem resolvida, com grana não vai pra cadeia e não vai pagar pelo crime... Tendo em vista aquelas pessoas que queimaram o índio em Brasília falando que pensavam que era um mendigo, e hoje um deles é policial civil... (...) Eu sinto um embrulho muito grande... Eu gostaria que os nossos problemas fossem resolvidos na raiz deles, e é por isso que eu mantenho uma ONG... e eu acho que minha ONG teria mais adesão se eu tivesse criado uma gangue pra espancar pedófilo... porque aí as pessoas iriam falar: 'Nossa, que legal, tem que espancar mesmo'... Mas como eu montei uma ONG para educar crianças pra se prevenir dos pedófilos e tratar os próprios pedófilos e entender que existe um outro caminho através da educação pra erradicar este problema... como a minha proposta demanda muito mais tempo... a adesão é bastante pequena. (...) Então... a gente que é atleta, a gente que pensa um pouco diferente, que se compadece com o outro, e que tem um pensamento... fora da caixa, pode se dizer... a gente é chamado de 'esquerda caviar', a gente é chamado de 'hipócrita', né? Então, eu só queria dizer que eu estou muito triste... Eu vou pro Panamericano, eu vou defender o meu país, mas não vou estar representando essas pessoas que batem palma para Feliciano, Bolsonaro, Eduardo Cunha, Malafaia... Não são vocês que estou representando. A torcida de vocês não faço questão nenhuma de ter... De Eduardo Cunha, de Daniel Coelho e da bancada pernambucana que votou a favor... não é por vocês, é pelas outras pessoas... que saiam um pouco de si, que saiam um pouco do próprio interesse... pra tratar os verdadeiros problemas... E eu vou fazer um outro vídeo, daqui a uns dez, quinze anos pra perguntar pra vocês se essa medida de hoje... da redução da maioridade penal... resolveu alguma coisa... Eu tenho certeza que não. Um bom dia pra você, se é que é possível."

Isso foi em julho de 2015. Um ano e um mês depois, peço que vocês dêem uma olhada na página de Joanna no Facebook. Veja como bolsonaretes, cunhetes (fãs de Eduardo Vai-Tomar-no-Cunha, se é que ainda é possível um psicopata deste quilate-mas-não-morde ter fãs...) et caterva fizeram a festa. Fossem apenas críticas à sua atuação nas "OlimPiadas", tudo bem, é chato, mas faz parte.
O que não faz parte são os desejos muito singelos – só que não – expressados por tais cretinos. Se estiver com preguiça de ir ao face da Joanna, leia este texto de Nathali Macedo no Diário do Centro do Mundo:

Vivemos Olimpíadas políticas. Uma mulher preta ganhando o primeiro ouro, uma mulher trans participando da abertura dos jogos, atletas lésbicas sendo pedidas em casamento nos bastidores, e o ódio da direita brasileira tomando forma, mais uma vez, diante de nossos olhos.
A nadadora Joanna Maranhão, conhecida por posicionar-se politicamente, não foi alvo de “enxurrada de críticas”, como tem anunciado uma mídia eufemista. Ela foi vítima da cultura do ódio.
“Tribufu derrotada”, “você não representa o Brasil, representa o PT”, “você e as feministas se merecem”, “mereceu ser estuprada” e “espero que se afogue na piscina” são só exemplos representativos dos comentários coletados na página da nadadora no Facebook.
Nada diferente do “vagabunda petista” que a própria Joanna ouviu numa ciclovia quando reclamou de um carro estacionado em local proibido, nada diferente do “você é puta” dirigido a Sabatella recentemente, nada diferente do “você é um merda” dito a Chico no Leblon, dos comentários odiosos nas páginas de Jean Wyllys, Duvivier e do próprio DCM e envolvidos.
Eis o mais óbvio do ódio à esquerda: lutar por igualdade, democracia e respeito à diversidade é o mesmo que ser petista (se você é uma mulher, é o mesmo que ser uma vagabunda).
Mas não é de hoje que a cultura do ódio tem ultrapassado fronteiras políticas.
É preciso muita insensibilidade – perceba que não estamos falando de posicionamento político, estamos falando de humanidade – para dizer a uma vítima de estupro como Joanna Maranhão, que ainda lida como pode com o trauma, que ela merecia ser estuprada novamente ou, quem sabe, morrer afogada enquanto treina.
Mesmo que “petistas” – traduza-se: gente que luta por um país melhor e não compactua com posicionamentos sexistas e homofóbicos – sejam a coisa mais terrível do mundo para uma direita ensandecida, nada justifica tanto ódio. Nem um posicionamento político equivocado justifica o prazer mórbido de escarafunchar a ferida de outro ser humano, de agredi-lo das maneiras mais cruéis possíveis.
Joanna anunciou que processará os haters e utilizará o dinheiro das indenizações para potencializar as Ações da ONG Infância Livre, com a qual colabora: “O ódio de vocês será revertido para uma boa causa: combate à pedofilia”.
Depois desta resposta serena e altiva, os haters foram escarafunchar o Twitter de Joanna, numa ridícula tentativa de justificar os ataques de ódio à nadadora. Encontraram um tweet de cinco anos atrás em que ela dizia que uma mulher trans jamais seria mulher.
Contemplemos a prova mais esdrúxula do mau-caratismo: tentar colocar a vítima de um linchamento virtual no lugar de culpada ou, no mínimo, merecedora dos ataques, como se qualquer coisa no mundo pudesse justificar que se deseje a morte ou a desgraça de alguém.
Ela errou, é verdade, como já erramos todos nós – nós que lutamos pela democracia e pela cultura, nós que não acreditamos em meritocracia, nós que ocupamos e resistimos, nós que não alimentamos o ódio (vagabundas e vagabundos petistas, segundo a direita), mas que, em algum momento de nossas vidas, fomos ignorantes ou insensíveis a essas causas.
Isso é o que chamamos de desconstrução: usar a empatia para perceber que discursos preconceituosos ferem o outro e, a partir desta constatação, rever os próprios conceitos, coisa que a direita brasileira se recusa a fazer. Eis, portanto, a diferença entre os corações cheios de ódio e os justos por natureza.
Joanna provou diversas vezes que já não é a mesma mulher de cinco anos atrás. Posicionar-se politicamente mesmo sabendo que isso poderia prejudicá-la e torná-la um alvo fácil da direita predadora é a maior prova de todas. Ela nem mesmo precisava se desculpar pelos equívocos do passado. A mulher que ela se tornou a redime.

Se não foram apagados (porque covardes deste naipe não mantém o que dizem), pode-se achar uns vinte "mereceu ser estuprada" (notem a mostra de "grande sensibilidade" – só que não – ao abuso que sofreu na infância e que lhe deixou traumas) e uns dez "tomara que sua mãe morra" (aplicação moderna da jurisprudência da rainha D. Maria I, a Louca, de Portugal, que não só condena os réus, mas seus familiares), além da chuva nada regulamentar de "vai tomar no cu". Salvo engano (alô, advogados de Terra Papagalli!), isso configura injúria, difamação e ameaça, né não?
E, claro, os regulamentares (para estes cretinos) "petralha", "feminista" – sim, pra estes misóginos (= homens que tem nojo das mulheres, como já expliquei certa vez, com a ajuda do Wikipediado dicionário, em outro post desta séria série), ser feminista é um "pecado terrível" – e, claro, o já manjado "você não me representa".
Sim, bolsonaretes, felicianetes, cunhetes et caterva: Joanna Maranhão não te representa, porque ninguém vai a um grande evento esportivo, como as "OlimPiadas", a passeio, e quem compete pode ganhar ou perder. Já quem se limita a destilar ódio gratuito via internet (seja por falta do que fazer, seja para aplacar suas frustrações na vida), como vocês, já é um perdedor por natureza.

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Aliás, aposto por A + B + C + D que os mesmos babacas (não tem outro termo pra eles, e me desculpem se alguém se ofendeu com ele) que ofenderam Joana Maranhão nas "OlimPiadas" de 2016 são os mesmos que ofenderam Rafaela Silva em 2012, quando ela foi desclassificada em Londres. Hoje, claro, enquanto ofendem a Joana, aplaudem a Rafaela... com a (des)honrosa exceção de André Mainardi Constantino Azevedo Forastieri, que veio com esta fantástica (só que não) tuitada:


(Em tempo: no mesmo texto do HuffPost em que a tuitada de André Mainardi Constantino Azevedo Forastieri é citada), há respostas mais do que merecidas. Deleitem-se com elas.)
Mas vamos e venhamos (e não me levem a mal): com todo seu azedume, André Mainardi Constantino Azevedo Forastieri, pelo menos, é pouquinha coisa mais honesto do que outro cretino que criou este meme abaixo:


Será que é isso mesmo, bolsonaretes?
A seguir, tudo junto e misturado, duas análises deste meme. Uma vem do Facebook de alguém, cujo nome só vou citar se ele me autorizar. Outra, vem de textos do HuffPost : um (A) sobre os incentivos dos ministérios do Esporte e da Defesa para a formação de atletas); outro (B), sobre o meme propriamente dito:

1. "É sargento da Marinha". Ter carreira militar nas Forças Armadas é comum para a juventude periférica, até porque as famílias pobres geralmente vêem como sendo carreira mais acessível e segura. Isso, até onde sei, só reforça o racismo estrutural. O branco da medicina para a classe média branca, e o branco da Marinha para rapazes e moças pobres e negros e negras.


(A) Felipe e Rafaela são apenas dois dos 145 atletas militares que fazem parte dos 465 esportistas da delegação do Brasil. Entre eles, também está Yane Marques, que conduziu nossa bandeira na cerimônia de abertura.
Eles fazem parte do Programa Atletas de Alto Rendimento do Ministério da Defesa.
Como funciona? Por meio de um edital, o Ministério da Defesa recruta atletas de ponta, oferece estrutura de treinamento e uma bolsa que pode chegar a R$ 3,2 mil por mês.
Para receber esse valor, é preciso se graduar a terceiro sargento. Já graduados, eles passam a defender o Brasil também nos Jogos Militares.
(...)
Tem mais um detalhe aí: além de receber o valor previsto no edital, os atletas militares continuam contando com os recursos do Bolsa Atleta e do Bolsa Atleta Pódio, ambos do governo federal, administrados pelo Ministério do Esporte.
(...)
Mas não para por aí. Esses convênios, bolsas e formas de incentivo fazem parte do Plano Brasil Medalhas. Lançado em setembro de 2012 pela presidente Dilma Rousseff, o Plano Brasil Medalhas instituiu o Bolsa Pódio e Bolsa Atleta com o objetivo de nos colocar entre os 10 primeiros países no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos e cinco primeiros nos Jogos Paralímpicos Rio 2016.

(Ou seja: não são militares servindo regularmente as Forças Armadas, como todos os marmanjos que completam 18 anos e são obrigados a servir a pátria; ou mulheres que se engajam voluntariamente. São atletas que estão militares enquanto são atletas. E ainda recebem bolsas criadas neste governo "petralha", que outros atletas não militares tem direito e recebem.)

2. "Negra". Hostilizam quando denunciamos o racismo presente em desigualdades na sociedade, mas usaram agora convenientemente para valorizar esse discurso mediocre;


(Isso quando não chamam gentilmente de "macaca", como em Londres, em 2012...)

3. "Cresceu numa favela" não. Por favor diz o nome, Cidade de Deus, que isso é importante. Aprendam a dizer o nome.


(Pelo visto, desde os tempos do filme Cidade de Deus, de 2002 , ainda se tem medo de falar o nome da comunidade. Lembram que, por algum temo, devido a Dadinho-é-o-caralho-meu-nome-agora-é-Zé-Pequeno e sua violência, neguinho da classe mérdia – assim mesmo, sr. revisor, obrigado – se recusava a dar emprego para quem era morador? Pois é...)

4. "Nunca precisou de cotas". Por que? Ofereceram cotas pra ela e ela recusou? Tem cotas na Marinha?


5. Quem fez o meme? Diz pra gente quem foi a pessoa que fez o meme, pra gente avaliar se o que ela conhece e fala de cotas, e a sua necessidade, é sério.


6. "Nunca precisou do Feminismo". Mas ela não precisa mesmo não. Quem precisa são vocês, e a Marinha. Aliás, só em 2012 a Marinha Brasileira teve uma mulher como Almirante (de sua patente mais alta). A Rafaela sabe que é mulher e a força que ela tem. Quem não sabe são vocês. 

(B) 1) Por meio do feminismo, mulheres puderam competir nos Jogos. Em 1900, seis mulheres feministas enfrentaram as regras olímpicas, obrigando a organização a criar um evento paralelo. Esse torneio paralelo foi levado até 1928. O Barão de Coubertin, criador das Olimpíadas Modernas, inclusive pediu demissão afirmando que a presença feminina era uma traição ao espírito olímpico. Para quem acha que o feminismo de hoje não é mais necessário, saiba que há muito a ser conquistado. No Brasil, a principal ainda é a divergência nos valores de patrocínio, pauta que foi levantada pela atleta Sandra Pires na década de 80 contra Carlos Arthur Nuzman (antes presidente da CBV, hoje no COB), por conta de um patrocínio da marca esportiva Rainha. Atletas masculinos e femininos tinham que vestir o uniforme com a marca, mas só os homens recebiam grana.

(Memória: essa é uma das coisas que faziam atletas como Isabel e Jacqueline lutarem. Nesta época, as duas, em protesto, vestiam seus agasalhos pelo avesso, para não aparecer a marca do patrocinador – no que estavam mais do certas, pois quem trabalha de graça é relógio.)

(B) 2) Precisou do feminismo para entrar na Marinha. Com mulheres na corporação somente a partir da década de 80, apenas em 1996 foi aceita a promoção de oficiais mulheres, por meio de lutas feministas.

7. "Conquistou tudo com mérito próprio". NÃO EXISTE MÉRITO PRÓPRIO NA FAVELA. Só comunitário. Mérito próprio é típico discurso burguês classemediano de quem teve toda a estrutura por trás e só precisou escolher. Na favela, se a vizinha tomava conta de você e te dava comida enquanto sua mãe ia pro batente; se a outra vizinha emprestava um botijão de gás quando o da sua casa acabava; se o cara da birosca vendia fiado pro teu pai porque ele dizia que era só ao menos pra tua merenda da escola, já não é mérito próprio, é comunitário. 


(B) 3) Precisou também de auxílio. Além da atuação do Instituto Reação, coordenado pelo medalhista olímpico Flávio Canto, ela foi, durante anos, beneficiária do Bolsa Atleta, programa do Ministério do Esporte que atende jovens promissores. Sem o benefício da bolsa e dos patrocínios adquiridos, a atleta, como ela mesma já declarou, jamais alcançaria êxito. Além disso, sua entrada na Marinha não se deu por meio tradicional e sim pelas vagas fruto de uma parceria entre os ministérios da Defesa e do Esporte. Ou seja, cotas reservadas para esses atletas.
4) Mas, apesar de tudo isso, é claro que ela conquistou por mérito próprio. O fato de ela ter recebido bolsa, além dos benefícios históricos do feminismo, só ajudou para que ela pudesse estar em uma condição mais justa (ainda que esteja longe, muito longe do ideal) de competir com quem não enfrenta problemas de misoginia, pobreza e racismo. Mérito maior é ter vencido ainda em um patamar social muito inferior à maioria de suas concorrentes. Se tem uma coisa que essa mulher tem na vida é mérito. Certamente mais do que maioria de nós. Não há problema em falar sobre meritocracia esportiva, desde que se entenda antes que ela só funciona isoladamente quando houver isonomia. De resto, ou as pessoas citam exceções como se fossem regras (ou como se pudessem facilmente virar regras) ou soltam chorumes como esse.
5) Enquanto há pessoas soltando esse meme falando pela Rafaela, com esse tom conservador, é bom lembrar que a atleta é declaradamente de esquerda. Isso não faz dela melhor ou pior, mas significa que quem usa esse meme, sem dúvida, está utilizando a imagem da atleta para propagar uma posição política contrária à dela, o que denota uma grande desonestidade intelectual.
É triste saber que, mesmo diante do choro de desabafo pelos atos racistas que ela sofreu, alguém ainda prefira ignorar isso e tirar um discurso ultraconservador de onde não existe. É chorume... E todo chorume fede.

Em tempo: o vídeo onde Rafaela fala se encontra aqui:



Mas só para completar:

(A) Desde a criação do programa, 8.991 atletas com deficiência receberam bolsas. Um detalhe: nenhum deles participou desse programa do Ministério da Defesa. Sabe por quê? Porque ainda não há um projeto voltado para paralímpicos.
Isso não nos impede de ter ficado em sétimo lugar no quadro de medalhas nos Jogos de Londres 2012. A propósito, sabe qual foi a posição do Brasil nos esporte olímpico? 22º lugar.
Afinal, quem é o responsável e quem ganha com toda essa rede? Quem ganha com isso? São os militares? O Ministério do Esporte? É o Brasil.
O Brasil ganha não só pelo pódio, mas por toda a rede de benefícios que o esporte traz.
Esporte é saúde. Saúde de verdade, que previne doenças, a que evita que a gente precise de hospitais.
Esporte gera inclusão social, combate preconceito.
Fico pensando... Quantas histórias de Rafaelas Silvas precisamos contar para entendermos isso?

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Agora, se a postura de esquerda (ou, pelo menos, de apoio a presidente afastada pelo golpe Dilma Rousseff) de Rafaela Silva pode desagradar bolsonaretes, felicianetes, malafaietes, cunhetes e outras catervetes, imagina o quanto eles vão arrancar as calças pela cabeça de raiva ao olharem esta matéria no site do Globo Esporte (que que há? Ninguém é perfeito...) e descobrirem que a judoca medalha de ouro... tem uma namorada.
Isso mesmo, Faceboook: Rafaela é lésbica. (Fica a informação, para que na próxima vez o seu site não pague o king kong de suspender perfis que falam de Rafaela como lésbica por denúncias cretinas, como aconteceu com um amigo. Tá bom, Mr. Zuckenberg?)
Um trecho:

(...)
Em meio a tanto amor e gratidão, uma personagem fundamental para o sucesso da carioca passa quase despercebida. Namorada de Rafaela há três anos, Thamara Cezar cuida para que a judoca precise se preocupar apenas em lutar e vencer.
As duas se conheceram no Reação, projeto social na qual ambas tomaram gosto pelo judô, mas Thamara não tinha a mesma habilidade de Rafaela para o esporte. Preferiu fazer um curso de Petróleo e Gás e agora está quase terminando a faculdade de Educação Física. E ainda arruma tempo para auxiliar a amada a cuidar da imagem.
Sem uma assessoria de imprensa pessoal (apesar de ser assistida tanto pela assessoria do Reação quanto pela da Confederação Brasileira de Judô), Rafaela deixa o trato com os jornalistas a cargo de Thamara a maior parte do tempo. É a namorada também quem administra o perfil de atleta no Facebook.
- Ela foi fundamental, porque ficava responsável por marcar entrevistas. Às vezes ela sabia que eu ficava cansada no treino e tentava minimizar a situação. Ela estava ali no dia a dia e sabia o que eu passava, quando eu estava cansada, quando eu não estava. Tudo o que eu precisava ela estava ali à disposição para fazer, então ela também é muito importante nessa conquista - disse Rafaela.
Nesta segunda-feira, Thamara estava junto ao grupo de familiares e amigos que torceram pela judoca na Arena Carioca 2. Mas muitas vezes a rotina do esporte impede que as duas passem todo o tempo que gostariam juntas. Neste último ano, Rafaela até competiu menos devido à estratégia adotada pela CBJ, mas normalmente possui um calendário repleto de viagens todos os meses.
Devido aos estudos e aos cuidados com os "filhos" (no caso, os três cachorros), Thamara infelizmente não consegue acompanhar Rafaela nesta rotina internacional. Mas, mesmo com a distância, as duas conseguem administrar a saudade para manter a relação tão saudável quanto possível. 
- É bem complicado. Ela não consegue fazer muita viagem, e a gente também tem três cachorros em casa, então fica bem complicado - lamentou Rafaela.
O cuidado com a casa, aliás, é um ponto forte para Thamara. No apartamento em que as duas moram, em Madureira, na Zona Norte do Rio, ela é a responsável pela maior parte das tarefas domésticas. Rafaela não sabe cozinhar e também é chegada numa bagunça.
- Eu não sei fazer nada, só lutar mesmo.

Não é fofo?

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Aliás, para justificar a temática desta séria série: estas "OlimPiadas" estão ainda mais arco-íris do que os jogos de Londres. Não que não soubéssemos que atletas LGBT viriam para o Rio de Janeiro, como nos informa o Lado Bi
Mas não é que vieram mais de 49 atletas LGBT para competir)? Pois é. Só entre os brasileiros, temos seis atletas. Além da Rafaela Silva (de quem já falamos agorinha), temos: Larissa (vôlei de praia), Mayssa (handebol), Julia Vasconcelos (taekwondo), Ian Matos (saltos) e Isadora Cerullo (rúgbi).
Aliás, de novo: Isadora Cerullo foi protagonista de um dos momentos mais fofos das "OlimPiadas". Foi o momento em que sua namorada, Marjorie Enya – que trabalha como voluntária nos Jogos – a pediu em casamento, diante de jornalistas (que registraram o momento, claro) torcedores,funcionários do estádio, outros voluntários e outras atletas da seleção. Quer ver este momento fofo? Tá aqui:

É como alguém escreveu no Facebook: "Essa Olimpíada tá sendo horrível... horrível para racistas, homofóbicos, elitistas e preconceituosos em geral."
Mas só durante as "OlimPiadas". Depois delas, voltamos à programação "normal", de discriminação, homofobia, assassinatos de gays, lésbicas, trans etc.
Mas enquanto a normalidade (SIC) não volta, fiquemos com a doçura e a inspiração deste momento tão fofo...

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Por falar em malafaietes: vocês pensaram que me esqueci de Silas Mala-Sem-Alça-Faia neste encerramento do assunto "OlimPiadas", né?
Não mesmo.
Não me esqueci das m... que ele tuitou sobre a abertura das "OlimPiadas"... nem das respostas...













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Para terminar, que já tá longo:
E, se os pobres heteros-da-Parada-Hetero-ameaçados-pelo-gayzismo forem fãs dos personagens da Disney, aí é que eles... coitados... vão arrancar as calças pela cabeça, de tanta raiva...
Claro que eu só soube disso agora, mas achei um barato.
A revista Cosmopolitan – cuja versão brasileira é editada com o nome de Nova pela... com o perdão do termo chulo... Editora Abril... – pediu ao ilustrador Isaiah Stephens – aliás, um cara f..., CQD a mostra de seu trabalho em seu site pessoal – para desenhar os príncipes e princesas da Disney formando casais LGBTs, para celebrar o mês do orgulho gay
A solicitação tinha uma certa razão de ser dada a repercussão da hashtag #giveelsaagirlfriend (que, mal traduzida para a inculta e bela, é mais ou menos assim: "Dêem uma namorada para Elsa!") no Twitter, no início deste ano: já que corriam rumores de que a Disney planejava realizar uma sequência do filme Frozen, a galera insistiu para que, nesta continuação, a rainha Elsa conhecesse uma namorada.

O assunto virou vídeo no canal Pink Popcorn, no YouTube.



Mas, se você prefere ver as gravuras, sem ver o vídeo, no problem: esta séria série atenderá a sua vontade. (Meus agradecimentos para o blog Bicha natalense.com, de onde extraí as ilustrações.)



Casamento do príncipe Eric (A pequena sereia) com o capitão John Smith (coadjuvante de Pocahontas)

Branca de Neve e a princesa Anna (Frozen) namoram tranquilamente em cima de um galho de árvore.

Flynn (Enrolados) e o príncipe Naveen (A princesa e o sapo) saboreando uma bela macarronada, ao estilo A dama e o vagabundo.

Outro casamento: Mulan e Pocahontas.

Milo (Atlantis, o reino perdido) e o príncipe Philip (A bela adormecida) namoram ao pôr do sol.

Ariel (A pequena sereia propriamente dita) e Jasmin (Aladdin) curtindo uma praia.

Aurora (A bela adormecida) e Cinderela deitadas no sofá, namorando e curtindo uma maratona de sua série favorita numa tarde de domingo.

O capitão Li Shang (Mulan) e Aladdin (o próprio) dormindo juntinhos.

Mégara, ou Meg (Hércules) num encontro romântico com Bela (A bela e a fera), num barzinho.

Hans e Kristoff (Frozen) curtindo uma praia e pegando um bronze.

A rainha Elsa (Frozen) e a princesa Tiana (A princesa e o sapo) saboreando um sorvete à lá 9 e ½ semanas de amor...

Tarzan e Hércules malhando juntos, como bom casal fitness.


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E agora, a nossa indicação para esta séria série. Desta vez, é uma produção para a TV japonesa: Transit girls (Japão, 2015), minissérie de 8 episódios escrita por Ayako Katô e dirigida por Masato Maeda
Sayuri Hayama (Sairi Ito ) é uma estudante que está no último ano da escola e ainda lidando com a morte de sua mãe, que já completa 2 anos. Sua vida vira de cabeça para baixo quando seu pai anuncia que vai se casar com outra mulher e que eles irão morar juntos. Para maior surpresa ainda, a moça tem uma filha mais velha no pacote, Yui (Yui Sakuma), uma fotógrafa profissional. A coisa começa aí.
Inicialmente Sayuri detesta tudo relacionado à usa madrasta e irmã postiça. Elas são completos opostos e ela se mantém distante o máximo o possível. Mas com o tempo isso vai mudando, até o momento que ela nota que de fato gosta de Yui de uma forma diferente, que nunca teve ainda por alguém.
Enquanto a TV brasileira não dá um tempo nos animes, narutos e pokemons e traz Transit girls para cá, resta-nos ver algumas cenas que alguém colocou no YouTube. (Como é que se diz "deleitem-se" em japonês? enfim...)