11 março, 2016

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (XLVI)

Prezado senhor Benedito Ruy Barbosa,

Tenho de lhe confessar uma coisa: durante algum tempo, eu também fui um fã de novelas de TV – isto é, quando era uma forma importante de teledramaturgia que abordava temas importantes, antes da neomexicanização forçada dos últimos anos (obrigado – só que não... – Silvio Santos e SBT, por este recuo na teledramaturgia brasileira).
E, dentre tais novelas, estavam as suas, doutor Benedito – especialmente Os imigrantes (Rede Bandeirantes, 1981/82), Pantanal (Rede Manchete, 1990), Renascer (Rede Globo, 1993), O rei do gado (Rede Globo, 1996-97), Terra nostra (Rede Globo, 1999-2000)...
Só que, quando esta neomexicanização começou, voltei-me mais para as séries de televisão, que se tornaram mais interessantes.
É por isso que não assistirei a sua nova novela que vai estrear agora na Rede Globo, Velho Chico. Não é por nenhuma campanha besta de boicote pelas besteiras que o senhor disse na festa de lançamento da novela – até porque o colunista do F5, Tony Goes, tem toda a razãoum boicote será inútil, porque ninguém vai deixar de ver a sua novela só por causa de sua incontinência lingual, que envergonhou até mesmo as suas filhas Edimara e Edilene, coautoras da novela. Só mostra que, aos 85 anos, há pessoas que envelhecem mal – tipo o Ziraldo, aquele-que-nunca-brochou (aqui, ó, que nunca...), que também falou m... a respeito do casal lésbico de Fernanda Montenegro e Nathalia Thimberg em Babilônia, de Gilberto Braga (Rede Globo, 2013/14) – mesmo o senhor, que começou como dramaturgo no Teatro de Arena, com Fogo frio (1959). (E note-se que o grande objetivo do Teatro de Arena era a renovação do teatro brasileiro, voltado para a sua realidade e para uma dramaturgia sem preconceitos...) E quem envelhece mal, abraça todos os preconceitos das gerações anteriores, que queria jogar no lixo.
Isso não quer dizer que eu não vá comentar com o senhor as besteiras que o senhor falou – e são besteiras mesmo, dignas de quem não observa direito a realidade ou se recusa a fazê-lo.
Primeira besteira do senhor:

“Odeio história de bicha. Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças. Tenho dez netos, quatro bisnetos e tenho um puta orgulho porque são tudo macho pra cacete”

Primeiro erro de julgamento seu, senhor Benedito. Personagens gays e lésbicas em novelas (e outras formas de teledramaturgia) não são "aula para crianças". São consequências de um fato simples: gays e lésbicas estão em toda a parte. E, já que o senhor "não é contra e não acha errado" (certo, é uma fala prima-irmã daquela fala hipócrita: "Eu até tenho amigos gays, mas..."), o senhor precisa entender que gays e lésbicas não querem mais ficar confinados a nenhum gueto: só querem ser aceitos como pessoas que, noves fora a sexualidade diferente dos heteros, são pessoas comuns, como eu e você.
E sexualidade não se ensina na escola (educação sexual sim, deveria ser ensinada, mas sempre haverãoimbecis como Jair Besteiraro e os fundamentalistas evangelicuzinhos para impedir isso "em nome da moralidade", como já disse em outro texto desta séria série), menos ainda pela teledramaturgia. Se seus dez netos e quatro bisnetos "são tudo macho pra cacete", não foi só pela educação em casa (se ela fosse determinante), mas porque eles nasceram assim. Orientação sexual não é escolha, como mostra este vídeo abaixo, que o senhor pode até assistir, para entender melhor. (E não se esconda por trás de seus 85 anos para se recusar a conhecer mais sobre um assunto: aprender é a coisa mais sábia que se pode fazer a vida inteira.) 


O que talvez a presença de personagens LGBT ensine (se é que audiovisual feito para entretenimento possa ensinar) é que eles são pessoas comuns como os heteros – com a sublime diferença de que não são heteros (dãããã...), de que seu amor se volta para pessoas do mesmo sexo. Simples assim.
Segunda besteira do senhor:

"Não sou contra, não acho errado. O que acho é que quando eu tenho na mão 80 milhões assistindo minha novela, tenho que ter responsabilidade com as pessoas que estão me assistindo. Tenho que saber que tem muito pai que não quer que o filho veja, porque eles não sabem explicar, não sabem como colocar. Muita gente reclama disso para mim. O que não é justo é você transformar: só é normal o cara que é bicha, o que não é bicha não é normal. A mulher que é sapatona é perfeita, a que não é sapatona não é legal. É assim que estamos vivendo"

Segundo erro de julgamento seu.
Começa que a realidade é complexa demais para ser reduzida a essa dicotomia certo X errado / preto X branco / jaca X jiló.
Sabe, seu Benedito, quando personagens gays e lésbicas aparecem na teledramaturgia, não é para dar lições a respeito de certo ou errado. É porque a dramaturgia tem um pé na realidade, e esta tem pessoas LGBT por aí, vivendo, amando, gozando e querendo bem.
E, só para relembrar, o senhor mesmo já criou personagens LGBT em suas novelas. Lembra-se de Buba, née Alcides (Maria Luísa Mendonça), a namorada transexual de José Venâncio (Taumaturgo Ferreira) em Renascer (1993)? Pois é. Então por que esta raiva?
O verdadeiro problema é que a presença de LGBTs, ao contrário do que o senhor afirma, não é "só é normal o cara que é bicha, o que não é bicha não é normal. A mulher que é sapatona é perfeita, a que não é sapatona não é legal" – porque nem isso está sendo feito na teledramaturgia brasileira.
O que nos leva a duas perguntinhas que Jean Wyllys fez em sua esculhambação à sua fala, doutor Benedito

A quantas novelas com protagonistas homossexuais vocês assistiram desde que a telenovela existe? Em qual novela o número de personagens homossexuais superava o de personagens heterossexuais?

Quer que eu lhe dê uma resposta?
Vamos lá. O que realmente me incomoda na presença de gays e lésbicas na teledramaturgia é o fato de que nunca foram protagonistas: sempre foram personagens secundários. Tais personagens só roubavam a cena graças ao talento de seus intérpretes, não pelo texto.
Pior: a história dos personagens LGBT na teledramaturgia mostra que eles sempre foram estereotipados (a "bichinha louca", com perdão do termo, ou, em raras vezes, a "sapatão masculinizada" – especialmente em programas de humor) ou como vilões "asquerosos". Isso quando não eram "esquecidos" pelos autores, seja por questões de audiência, seja por inabilidade da equipe de autores em trabalhar com eles – tipo assim: criou o personagem LGBT mas depois não sabe o que fazer com ele nas tramas principais ou paralelas.
(Aliás, já que A regra do jogo está terminando esta semana, fica uma pergunta: qual realmente foi a função dramática do casal Úrsula/Julia Rabello) e Duda/Giselle Batista na novela? Mera figuração?)
Daí, é meio difícil dizer que personagens LGBT estão tendo destaque maior e (se é que isso é possível) mais positivo.
Mas, se isso estivesse acontecendo, é porque, apesar de Besteiraros, pastores fundamentalistas evangelicuzinhos e outros quetais, os LGBTs estão na sociedade e querem ser aceitos, não querem mais ficar segregados em "guetos-de-varsóvia".
E que, apesar das falhas que apontei acima, a teledramaturgia não pretende mais ignorá-los. Apesar do senhor.
Simples assim.
E quando eu falo de teledramaturgia, não me refiro somente à teledramaturgia brasileira: me refiro à teledramaturgia mundial. Do contrário, séries de Tv como The L Word (EUA, 2004 a 2009) e Lip service (Reino Unido, 2011 a 2012) não existiriam.
(Aliás, se o senhor quiser, posso lhe repassar uma lista de programas de televisão onde aparecem personagens LGBT, especialmente os filmes para a TV, as sitcoms, as novelas – inclusive em Portugal, ora pois! – e, claro, as séries de TVVai reclamar que o mundo está "ensinando" que "ser gay é legal?" Ou vai finalmente entender que não é bem assim?)
Atenciosamente...

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Agora, nossa indicação para esta séria série: All about E (Austrália, 2015), de Louise Wadley.
E, no caso, é como é conhecida a protagonista (Mandahla Rose) – uma bela e sexy DJ, e ex-clarinetista aspirante. Em tempos idos, no interior da Austrália, teve um grande amor, Trish (Julia Billingham), que perdeu, e agora ela seduz todas as meninas que encontra. Se você acha que isso significa que ela está feliz, pense novamente. Ela está vivendo muito mais para seus pais e para o escrotíssimo dono do clube em que trabalha, Johnny Rock (Simon Bolton) do que ela para si mesma. Os pepinos aparecem (e aí o filme se transforma em um film noir) quando uma mala com muito dinheiro aparece misteriosamente em seu apartamento – dinheiro que, para variar, vem de negócios escusos de Johnny Rock. E acaba fugindo com o dinheiro, em companhia de um amigo gay, Matt (Brett Rogers) – justamente de volta para a fazenda onde Trish vive.
E agora? E conseguirá ficar com o dinheiro, dominar seus demônios e ficar com Trish?
Isso só saberemos se algum distribuidor tiver coragem de trazer All about E para o Brasil.
Enquanto isso não acontece, curtam o trailer.



09 março, 2016

CINEMISTAS E ETC.

I

Notícias de Brasília, via Tela Viva:

Lewandowski derruba liminar que impedia recolhimento da Condecine pelas teles

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, decidiu na noite desta terça, 8 de março, pela derrubada da liminar conseguida pelo SindiTelebrasil contra o recolhimento da Condecine na Justiça Federal no final de janeiro. A decisão de Lewandowski ocorreu no pedido de Suspensão de Segurança 5116, impetrado pela Ancine, e tem o seguinte teor: "(…)defiro o pedido para suspender a execução da decisão liminar proferida no Mandado de Segurança Coletivo (Processo 1000562-50.2016.4.01.3400), em trâmite perante a 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, posteriormente confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região no julgamento do Agravo de Instrumento 1000600-77.2016.4.01.0000, até o trânsito em julgado do writ. Comunique-se com urgência". A implicação imediata é que, sem a liminar, as operadoras de telecomunicações afetadas pela liminar do SindiTelebrasil terão que recolher normalmente a Condecine Teles no dia 31 de março, referente ao ano de 2015. O valor estimado pelas próprias empresas de recolhimento é de cerca de R$ 900 milhões. As ações movidas pelas teles seguem seu curso, mas agora sem liminar, até o julgamento.
Ou seja: ainda que a ação prossiga, as teles vão ter de achar outro meio de diminuir seus prejuízos sem sacanear o audiovisual brasileiro.
(Se bem que eu, meio leigo, não entendo: como é que as teles conseguem ter prejuízo, mesmo cobrando os olhos da cara nos serviços aos seus clientes - incluindo telefonia fixa e móvel, internet e, agora, TV por assinatura?)
E vão ter de arrumar um caô melhor de "não tem nada a ver com ele" para vencer a ação na justiça. (Se não tem nada a ver, repassem suas concessões de programadoras de TV por assinatura e parem de veicular vídeos, ora bolas...)
Ah, sim: e seus ilustres executivos vão ter de dar outro jeito de garantir seu "bônus por lucratividade"...

II

Agora, dona Ancine, já que a senhora pediu (e conseguiu) o apoio de todo o audiovisual brasileiro para combater este bom combate, podia agora ouvi-lo mais amiúde (essa foi do baú, né não?) a respeito de várias coisas.
São tantas - a começar pela Condecine para produtores, exibidores e distribuidores, a bur(r)ocracia, os processos de seleção etc., etc. e tal, que mal tem espaço para falar aqui. Vou falar só de duas.
Uma tem a ver com a minha área: roteiro - especialmente para séries de TV. Até agora, as produtoras tem sido muito corretas e honestas com os roteiristas depois que, por exigência das Chamadas Públicas FSA/Ancine (e, por determinação da atual Lei dos Direitos Autorais), todos os direitos patrimoniais de criação: o roteirista escreve os roteiros, e as produtoras pagam e exibem os créditos do roteirista. Agora, se em todas as áreas existem desonestos, fica uma coisa: e se aparecer uma produtora desonesta que, depois de cedidos os direitos, joga o roteirista que criou a série para escanteio, escalando outra pessoa para escrever, sem botar créditos e não paga?
Outra coisa: os critérios de seleção de projetos. Transcrevo aqui um depoimento de Marcos Santana (os grifos são meus).

Prezados,
Esta mensagem vai para todos aqueles que me conhecem, aos que não me conhecem, mas principalmente aqueles ligados ao mercado do audiovisual no Brasil. Quem me conhece sabe que meu sonho é viver profissionalmente da escrita de roteiros. Para que isso aconteça, venho ano após ano inscrevendo projetos e mais projetos em todos os editais que surgem. Em 2013 no FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), com uma série de TV sobre um jogador de futebol que volta a viver na comunidade onde cresceu depois de dez anos na Europa, cheguei até a terceira e última fase, mas não consegui me classificar devido ao meu currículo inexperiente como roteirista. Em 2014/2015, novamente pleiteando o FSA, o projeto para longa-metragem "Prazeres Secretos" foi classificado, recebeu um excelente feedback crítico da ANCINE, porém, novamente não alcançou a pontuação desejada devido ao currículo inexperiente do roteirista. Algumas vezes já cheguei a ouvir de pessoas que estão no mercado: "Muito foda esse seu roteiro! Sabe o que você tem que fazer agora?! Dividir o crédito com um roteirista mais experiente, ou coloca-lo como roteirista e você como assistente. Assim vai ser mais fácil de conquistar seu espaço!". Será que é assim mesmo que tenho que fazer para conquistar meu currículo de roteirista? Dizer que um roteirista mais experiente foi quem teve a ideia e desenvolveu aquele determinado roteiro?! Não posso acreditar nisso! Concordando comigo e acreditando no meu trabalho, meu grande amigo Marcelo Cobucci, resolveu ajudar financeiramente na produção do meu primeiro curta-metragem independente, "A Faca". Além de ter escrito o roteiro, também assino a produção e a direção. E é óbvio que serei eternamente agradecido a todos envolvidos no projeto, Gabriela Sá Earp, Thales Coutinho, Fernanda Azevedo, Anderson Bretas, Daniel Ribeiro, Guilherme Araújo, Rubel (uma jovem pérola da MPB que cedeu sua música na faixa, para agregar ao filme), Raphael Teixeira, e a todos que ainda entrarão nesta pequena jornada. Bom, meu objetivo com esta mensagem é que ela chegue aos olhos de alguém que possa fazer a diferença e me proporcionar uma oportunidade seja como roteirista estagiário, assistente, para desenvolver projetos, ou enfim, qualquer possibilidade como roteirista dentro do mercado audiovisual. Cada vez mais ouço que o mercado está precisando de novos roteiristas, e eu estou aqui correndo atrás da minha oportunidade.
Abaixo segue o link do feedback crítico da ANCINE sobre o longa-metragem "Prazeres Secretos", e o link para meu blog, onde está disponível o roteiro "A Faca" entre outros argumentos cinematográficos e contos literários.
Obrigados a todos pela atenção e quem puder, compartilhe esta mensagem que será de grande ajuda.

Marcos Santana,
Roteirista

Tudo bem, é praxe de todo concurso, edital ou chamada pública priorizar os profissionais com mais tempo de estrada - afinal, pensa-se assim: se ele for premiado, ele vai fazer, até porque sabe. Mas quem disse que um profissional estreante não pode ser competente para fazer alguma coisa? E, se o pensamento é esse, por que não uma linha para roteiristas estreantes?
O que não dá é propor um esquema à la Francisco Alves para que o roteirista estreante possa finalmente trabalhar.
Pra quem não entendeu, uma breve história da MPB: Francisco Alves (1898-1952) foi um dos mais famosos cantores dos anos 1920 ao início dos anos 1950, até morrer num acidente de automóvel na Via Dutra, em 1952 - ainda no auge do sucesso: seu enterro foi tão concorrido como o de Carmen Miranda, três anos depois. E também foi compositor. O caso é que, se o intérprete é indiscutível, o compositor suscita dúvidas dos pesquisadores até hoje. Principalmente por causa da suas tríplices parcerias com Ismael Silva e Nilton Bastos (e depois, com Noel Rosa no lugar de Nilton Bastos). Em depoimento, Ismael Silva afirmou que Francisco Alves entrou como parceiro apenas com o nome e a fama - especialmente em músicas como esta, que "quase ninguém conhece"... (só que não...)


Isto é justo? Acho que não. 
Ah, sim, mais uma coisa (já que a sentença do dr. Lewandowski sobre a liminar das teles saiu no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher): mais espaço para as mulheres profissionais de audiovisual, tanto nas Chamadas Públicas, quanto nas comissões avaliadoras - só para começar.

III

Enquanto isso, dona Ancine, que tal dar uma passadinha em São Paulo para ter uma conversinha com o dr. Geraldo Alckmin?
Assunto: Spcine.
Mais uma vez, informa-nos o Tela Viva:

Entidades cobram de Alckmin investimento na Spcine

Quatorze entidades do audiovisual publicaram nesta terça, 8, uma carta aberta ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, cobrando os investimentos prometidos na Spcine, a empresa paulista de fomento à atividade.
O governo estadual participou do lançamento da empresa, em 2013, e na ocasião comprometeu-se a fazer um aporte de R$ 25 milhões no capital da Spcine. A atitude foi saudada à época como exemplar, por superar as questões partidárias entre o estado e o município, em benefício de todos. Mas o governo do estado nunca fez o aporte integral do valor prometido.
Confira abaixo a íntegra da carta:

"São Paulo, 01 de março de 2016
Carta Aberta ao Exmo. Sr. Geraldo Alckmin
Governador do Estado de São Paulo

Excelentíssimo Senhor Governador Geraldo Alckmin,
Estivemos juntos pela última vez quando a Spcine foi lançada em 2013, numa bela comemoração de todo o setor audiovisual em São Paulo. Ali celebramos não apenas o nascimento da Spcine, mas a parceria inédita que nascia entre as esferas da Prefeitura, Governo do Estado e Governo Federal. Naquele dia, os desafios do audiovisual paulista tiveram tratamento à altura e foram assumidos compromissos importantes pelos três poderes públicos.
Com o aporte inicial feito pela Prefeitura de São Paulo, a Spcine foi inaugurada, lançou políticas e ações, confirmando o acerto na criação dessa empresa, e o enorme potencial de uma política articulada e ampla de desenvolvimento do setor.
Exatamente esse setor que vive um momento ímpar. Neste domingo, dia 28, pela primeira vez em sua história uma obra audiovisual brasileira, "O Menino e o Mundo" – realizada por animador e produtora paulista – concorreu ao Oscar de melhor filme de animação mundial. São Paulo vem se firmando como cidade polo da animação. Aqui são produzidas séries de animação, de ficção, documentários, reality shows, presentes nos canais abertos ou da TV por assinatura, sejam nacionais ou internacionais.
A solidificação do setor audiovisual brasileiro resultou em grandes e crescentes índices de bilheteria no cinema e a previsão de 2016 como seu melhor ano em todos os tempos, e São Paulo vem recuperando espaço coerente com sua população e economia.
Na televisão, as audiências e o salto de qualidade dos conteúdos brasileiros são visíveis. Hoje, em todos os cantos do Brasil se produz e se assiste como nunca o conteúdo audiovisual. São Paulo também é o principal polo de desenvolvimento de videogames que hoje permeiam o imaginário de milhões de brasileiros.
Estes resultados já têm a contribuição da Spcine, e se tornaram possíveis com ações efetivas conjugadas às políticas municipais e nacionais para o setor.
Apesar de todas estas boas notícias, Sr. Governador, há um notícia que não podemos comemorar. A promessa realizada pelo Senhor de participar dos investimentos na Spcine ainda não se concretizou. Naquele ato da implantação da Spcine o Senhor assumiu o compromisso de aportar no capital social da empresa os mesmos recursos já aportados em dois anos seguidos pela Prefeitura da Cidade de São Paulo.
Os recursos do Governo do Estado para a Spcine foram e ainda permanecem contigenciados desde 2015 e, o que o nos soa ainda mais grave, não há qualquer previsão orçamentária para 2016. A Spcine vive apenas dos recursos municipais e federais, e ainda não há qualquer sinal de que o Governo do Estado venha a manter seu compromisso com o apoio ao cinema e a audiovisual.
Além disso, nos últimos 24 meses, uma série de tentativas de reunião com o Senhor resultaram em adiamentos e cancelamentos sem qualquer nova perspectiva.
Reiteramos que a boa evolução desses resultados sociais, culturais e econômicos do audiovisual paulista só serão possíveis com o investimento conjunto a ser feito pelo Governo do Estado. Investimentos que retornam pela geração de empregos, pela força simbólica das obras audiovisuais e pela arrecadação de impostos na cadeia audiovisual.
Não podemos perder esta oportunidade de política econômico-cultural. É preciso reconhecer a qualidade das obras audiovisuais produzidas em São Paulo, e do permanente fluxo de investimentos, que, diga-se de passagem, oferecem retorno de arrecadação em forma de tributos às esferas de Governo. Além de constituir relevante polo industrial para a Cidade e para o Estado.
Apoiamos o plano de ações da Spcine, cinema, games e audiovisual – seja nas janelas de cinema e TV como nas plataformas móveis e digitais, com o fortalecimento do setor e construção em definitivo de uma economia criativa paulista e brasileira, competitiva no cenário nacional e internacional.
Assim sendo, as Entidades aqui signatárias vêm requerer a efetivação dos referidos compromissos bem como solicitar a V. Exa. uma agenda com as Associações e Sindicatos e suas ações parceiras da Spcine no plano Estadual, representando mais de um milhar de empresas produtoras audiovisuais no Estado.

Assinam esta carta as seguintes Entidades:


ABCA – Associação Brasileira de Cinema de Animação
ABD SP – Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas – Seção São Paulo
ABELE – Associação Brasileira das Empresas Locadoras de Equipamentos e Serviços Audiovisuais.
ABPITV – Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão
ABRAGAMES – Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos
ADIBRA – Associação das Distribuidoras Brasileiras
APACI – Associação Paulista de Cineastas
APRO – Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais
AR – Associação dos Roteiristas
ERA TRANSMIDIA
FORCINE – Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual
FORUM DOS FESTIVAIS
RDI – Rede de Distribuidores Independentes
REDE ALT(Av) – Rede de Coletivos Audiovisuais
SIAESP – Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo

Tudo bem, dr. Alckmin, eu sei que seu estado (assim como outras unidades da Fede-rá-rá-rá-ção) estão com dificuldades para pagar suas contas.
Também sei que V. Exa. precisa de recursos para a sua futura campanha presidencial - ainda mais que Paulo Ladruf... digo, Maluf lançou a sua candidatura (se é que as intrigas dentro do PSDB assim lhe permitam, já que José Nosferatu Serra e Aébrio Néris de Pitibiriba também querem a indicação).
Mas convenhamos, assumir um compromisso e não cumprir é um pouco demais da conta. Sem falar que tal calote ajuda ainda mais a queimar o vosso filme - filme que já está bem queimadinho com a "restrição hídrica" (vulgo crise de água) e com "a reorganização escolar" (vulgo: a tentativa de fechar escolas para economizar dinheiro) - bem como os seus "criativos" eufemismos e negações autistas da realidade. (Mais bons exemplos da "criatividade" de Geraldo Alckmin podem ser encontrados no site Alckmin Nega.)


Isso pega MUITO mal, sabia?
Especialmente na área audiovisual, que desconfia muito do que pode acontecer com ela (recuos e destruição dos mecanismos atuais de fomento ao audiovisual, em nome de uma fórmula de "controle de gastos") se o PSDB.

IV

O que nos leva a um vídeo, onde Luiz Carlos Barreto defende o mandato de Dilma Rousseff contra o impeachment e critica a quase prisão de Lula, na última sexta-feira
Pouco importa o que você pense do Barretão. Ouça-o até o fim e tire suas conclusões.
As minhas são estas: se ele defende o atual governo, é porque a oposição não apresentou nenhuma proposta alternativa convincente para o Brasil - nem para o audiovisual brasileiro.



V

Mas voltando a falar em mulheres no cinema, saiu a premiação da primeira edição do Prêmio Cabíria de Roteiro.
Informa-nos o site Mulher no Cinema:

A primeira edição do Cabíria, prêmio exclusivamente dedicado a roteiros com protagonistas femininas, anunciou seus vencedores nesta segunda-feira (7).
A premiação ocorreu no Rio de Janeiro durante o Encontro com o Instituto Geena Davis, evento organizado pela instituição em parceria com a Firjan e a WIFT Brasil.
Conheça os premiados:

1º lugar
Thais Fujinaga, por “O Filho Plantado”

2º lugar
Guilherme Macedo, por “Estrela sem céu”

3º lugar
Cecilia Engels, por “Terceira Página”

Menções honrosas
Eleonora Loner, por “Matrioshkas”
Marton Olympio, por “As Três Senhoras do Tempo”

Os roteiros inscritos foram avaliados por uma comissão de seleção composta por cinco mulheres atuantes no mercado audiovisual: Amanda Gabriel, Andrea Cals, Bianca Lenti, Caru Alves de Souza e Lis Kogan. O primeiro colocado receberá R$ 10 mil; o segundo, um curso no Centro Cultural B_arco no valor de R$ 600.
“Terceira Página” também ganhou uma consultoria de roteiro, como prêmio paralelo oferecido pela WIFT Brasil.

Viva elas!

VI

Lembrando: a primeira edição deste Prêmio Cabíria foi feita através de vaquinha (como diria tio Ancelmo Gois, crowdfunding é o cacete!), através do site Catarse.
Entretanto, o Femina - Festival Internacional de Cinema Feminino tentou fazer também a sua última edição em 2014 através de vaquinha no Catarse. Não juntou os recursos que precisava e acabou fazendo uma edição econômica. Depois disso, não há previsões para uma nova edição.
Não é o único. Com a tal crise econômica, diversos festivais e eventos congêneres perigam de não mais serem realizados.
Um deles é o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que nos últimos dois anos realizou edições pocket, com o apoio da UFF.
Você pode pensar o que quiser de festivais, mas eles são muito úteis para possibilitar o encontro entre os que fazem audiovisual e destes com o respeitável público. Você pode pensar que tem festival demais, mas é muito ruim ter festival de menos.
No caso do Festival Brasileiro de Cinema Universitário, ele foi o primeiro festival dedicado (como o nome diz... dããã...) às produções audiovisuais feitas por faculdades e cursos universitários de audiovisual - produções que iam a outros festivais comuns, mas que passavam desapercebidas como filmes universitários.
E, convenhamos, ver este Festival sumir por falta de recursos e braços pra fazer será triste.
Por isso, vai haver um assembleião para discutir sobre o Festival. Data: 17 de MARÇO (quinta-feira) 17hs, no Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS) da UFF (Rua Prof. Lara Vilela, 126 - Ingá - Niterói, RJ)
A princípio, a convocação é para os estudantes de cinema da UFF. Mas acho que vale para TODOS os que estiverem interessados em fazer o Festival. Vale para ex-alunos de cinema da UFF também - por que não? 
(eu ia dizer: vale também para quem pode colaborar com recursos financeiros. Mas estes parecem que vão ficar na toca mesmo...)

VII

Daí, com esta crise, só vão adiante festivais que são feitos do jeito que pode ser feito.
É o caso da Mostra do Filme Livre, que começa hoje, 9 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ).
"Ah, mas não tô no Rio!" 
Faz mal não: depois do Rio (e Niterói, no Cine Arte UFF), a MFL vai passar por São Paulo, Brasília e Bel'zonte. Se você estiver numa destas cidades, é só aguardar.

VIII

That's all, folks!