09 julho, 2011

DA SÉRIA SÉRIE "FILMES QUE JAIR BESTEIRARO ET CATERVA A-DO-RA-RI-AM..." (VII)

Um dia, estava eu num ônibus, quando ouvi duas pessoas conversando sobre a II Guerra Mundial e o Holocausto. Quando eu estava me preparando para descer em meu ponto, ouvi a seguinte "pérola", digna de piada sem-noção do PQP... digo, CQC, dita por um destes f!#$% da p*&@:
- Sabe o que odeio no Hitler? É que quando foi matar todos os judeus, acabou fazendo serviço de preto!
(Pai dos burros: "Serviço de preto" é um termo que designa quando uma pessoa faz um trabalho muito mal feito. E sim, é um termo racista, e seu alvo são os afrodescendentes. Ou seja, o f!#$% da p*&@ conseguiu a rara façanha de ser duplamente racista: contra os judeus e contra os afrodescendentes...)
Soma-se a este fato o noticiário sobre a "heróica luta" de "defensores da família", como Jair Besteiraro e a Frente Parlamentar Evangélica, com o narcisista truculento Anthony Gargantinho à frente, contra a "ditadura homossexual" (SIC) sobre a sociedade brasileira.
Estes dois fatos me fizeram pensar.
Sabe uma coisa que oscila entre o estranho, o esquisito e o apavorante? São a argumentação e o modo utilizados por Jair Besteiraro, Anthony Gargantinho et caterva para a sua "boa causa".
(A propósito, desconfie de todos os "defensores da família" da "moral" e dos "bons costumes", cuja fórmula de defesa é a restrição de direitos civis. No fundo, eles querem negar a toda a sociedade os direitos e prazeres que só eles gozam escondido - às vezes, até exacerbadamente...)

Que argumentação? A de que o povo LGBTS é uma "ameaça" à civilização cristã e à "moralidade".  Que modo? Basicamente, a negação do outro, o impedimento de um "outro" diferente de si em existir. E, por tabela, a guerra contra o outro, para compensar as frustrações de vida e de ambição de poder de quem declarou tal guerra, bem como desviar a atenção das pessoas.
Grosso modo, foram modos e argumentações semelhantes que justificaram, por séculos, o antissemitismo - e, entre 1933 e 1945, o Holocausto nazista.
Pense num sistema que matou cerca de 14 milhões de pessoas que não se enquadravam nos parâmetros de uma "nova civilização ariana" na Europa. Entre elas, 6 milhões de judeus. Agora, levando-se em conta o horror que foi revelado à humanidade quando da derrota do III Reich, pense na impossibilidade de usar os judeus como o inimigo da vez, como os"culpados" pela "decadência" da civilização ocidental.
Nenhum problema, pensam eles. Que tal pegarmos os gays, lésbicas, bissexuais e simpatizantes como os inimigos da vez?
O único problema é que gays, lésbicas, bissexuais e simpatizantes já foram os inimigos perseguidos da vez de grupos intolerantes - não apenas nos últimos 800 ou 1000 anos de era cristã,  em que foram empalados (na Idade Média), condenados à fogueira (sob a Santa Inquisição), enforcados, decapitados, condenados à prisão com trabalhos forçados, internados em hospícios, quando a homossexualidade era considerada doença (ver post com longa carta para uma deputada estadual) - mas também pelos próprios nazistas. (Pois é, justo os nazistas, que tiveram um companheiro, Ernst Röhm, que era homossexual não escondido; sem falar que seu próprio líder, Adolf Hitler, sempre despertou suspeitas a respeito de sua sexualidade...)
É o que nos mostra outro filme indicado nesta séria série: Parágrafo 175 (Paragraph 175, EUA, 2000), documentário de Rob Epstein e Jeffrey Friedman. O tal parágrafo era um dispositivo do código penal alemão, adotado com a unificação alemã em 1871 - por sua vez, originário do código criminal do antigo reino da Prússia.
Com sua permissão, uma (mal traduzida) sinopse do filme:


Na década de 1920, Berlim tornou-se conhecida como um éden para os homossexuais , onde gays e lésbicas viviam uma vida relativamente aberta no meio de uma subcultura emocionante de artistas e intelectuais. Com a chegada ao poder dos nazistas, tudo isso mudou. Entre 1933 e 1945 100.000 homens foram presos nos termos do Parágrafo 175, a pena para a homossexualidade do código penal alemão, que remonta a 1871. Alguns foram presos, outros foram enviados para campos de concentração. Destes últimos, apenas cerca de 4.000 sobreviveram. Hoje, menos de dez desses homens são conhecidos por serem vivos. Cinco deles já vêm para a frente para contar suas histórias pela primeira vez neste filme novo e poderoso. A perseguição nazista aos homossexuais pode ser a última história não contada do Terceiro Reich. Parágrafo 175 preenche uma lacuna importante no registro histórico, e revela as conseqüências duradouras deste capítulo oculto da história do século 20, como dito por meio de histórias pessoais de homens e mulheres que a viveram: o combatente da resistência meio judeu, meio gay que passou a guerra ajudar refugiados em Berlim, a lésbica judia que fugiu para a Inglaterra com a ajuda de uma mulher que tinha uma queda por ela; o fotógrafo alemão Christian, que foi preso e encarcerado pos sua homossexualidade e, em seguida, se alistou no exército ao ser solto porque ele "queria estar com homens "; o adolescente da Alsácia francesa que viu o seu amante torturado e assassinado nos campos. São histórias de sobreviventes - às vezes amargas mas apenas como muitas vezes cheios de ironia e humor; torturados por suas memórias, ainda repletas de muita vontade de resistir. Seus comoventes testemunhos, prestados com imagens evocativas da sua vida e da época, contam uma história, assombrosa e convincente de resistência humana em face da crueldade inominável. Íntima em seu retratos, varrendo em suas implicações, Parágrafo 175 levanta questões provocativas sobre memória, identidade, história e identidade.




Exibido no 8º Mix Brasil, em 2000, Parágrafo 175, para variar, não foi distribuído comercialmente no Brasil. Ainda tem tempo.
Enquanto isso, o trailer.

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