22 julho, 2011

CASO AS "OTORIDADES" DO RIO NÃO SAIBAM...

Imagine se alguém vai comprar um carro de mim. Digamos que custe uns R$ 60.000,00. (Uma pechincha, não é?). Você se interessa, fechamos negócio e coisa e tal. Mas quando fechamos negócio, este alguém me chama num canto e fala baixinho:
- Olha, eu estou com um problema: estou sem R$ 60.000,00 para comprar seu carro. Eu queria saber uma coisa: será que você poderia me emprestar este dinheiro para pagar a você?
Pergunta: o que você faria, além de desfazer o negócio?
a) mandaria este alguém lamber sabão?
b) mandaria pentear macacos?
c) mandaria para outros lugares que a educação não me permite citar aqui?
ou
d) todas as alternativas anteriores, mais uns tabefes na cara para ver se este alguém toma vergonha?
Pois é. Tem gente que, ao se tornar gestor público, fica com ideias de jerico deste tipo. Tipo assim, a Rio Film Comission. 
Vai aí um texto explicativo sobre o que é uma Film Comission. O texto é de um cineasta chamado Romeu di Sessa, a quem agradeço as explicações.

"Film comission não é só pra produção estrangeira mas nacional também, local, inclusive. Uma FC centraliza por exemplo os alvarás todos que são necessários pra uma equipe filmar. Então vamos dizer que eu, brasileiro nato e paulista, vou fazer um filme aqui em Sampa que tem uma cena que precisa fechar a Av. Paulista, e que depois vai ter um carro capotando e pegando fogo numa outra parte da cidade. Em vez de eu ficar correndo atrás de tudo, vou na FC paulista e consigo todas essas licenças, mais a ajuda do DSV e dos bombeiros pra filmar. Se uma equipe de Salvador vier filmar em Sampa, eles procuram a FC pra conseguir as mesmas coisas, mais indicação de hotel pra equipe se hospedar, mais o contato da Locall pra eles alugarem um estúdio. E assim por diante.
Quando você cria um sistema desse, você disponibiliza isso na Film Commission internacional, assim se alguma equipe de algum outro país (não precisa ser os EUA, pode ser o Irã também) vier filmar aqui, já sabe onde procurar ajuda. E tem a ver fazer isso, interessa pra todos. Vamos dizer que tenha uma equipe alemã querendo fazer um filme bíblico. Eles planejam filmar num deserto qualquer, no oriente médio. Aí chega a FC brasileira e mostra pra eles que fica mais barato e mais fácil filmar no Rio Grande do Norte, que eles vão contar com mais infra-estrutura, e não vão estar efetivamente no meio do deserto, ou seja fala pra essa equipe "filme comigo?". Pronto, todo mundo sai ganhando, a equipe alemã, o Rio Grande do Norte, o Brasil, os técnicos daqui, a figuração daqui, etc.
Fora que também pode ajudar não só pra achar "paisagens bonitas", pode ter uma equipe belga precisando de uma locação que seja um viaduto com 3 casas baixas, um largo no fundo, e um posto de gasolina à esquerda ou seja, uma locação qualquer bem específica, que por qualquer motivo fique mais fácil vir com a equipe e filmar aqui do que construir em estúdio. Tanto faz.
Essa história de que vem americanos pra cá pra destruir o cinema nacional, mais a flora e a fauna, e que uma film comission no fundo "vai ajuda-los" a fazer isso, você me desculpe a franqueza mas é um papo furado enorme. Primeiro porque não precisam vir americanos pra cá pra destruir nossa fauna, nós mesmos já fazemos isso com destreza. Depois porque certamente não são só equipes estrangeiras que podem fazer merda durante a filmagem. (até parece que ninguém aqui nunca marcou a parede de uma locação quanto colocou a barracuda...) e em última instância dá pra dizer que é exatamente o contrário do que você está falando, quer dizer, as equipes agem como agem porque não tem ninguém pra controlar. Uma FIlm Comission serve pra isso também, pra controlar o uso urbano. E óbvio, a partir dos NOSSOS interesses. Você achou mesmo que alguém ia se dispor a criar uma entidade pra servir a interesses contrários aos nossos, ambientais ou cinematográficos?
E só pra manter o bom humor, aqui você diz:
'O que eles querem é ganhar dinheiro'
Você fala isso como se você estivesse revelando um grande segredo deles...
Por favor, quem que você conhece que não quer ganhar dinheiro? :)
Legal, vamos pensar sempre em tudo, em todos os aspectos, mas por favor vamos nos basear em qualquer coisa que não seja só paranóia.
aBRaços
Romeu di Sessa"

Viram, sr. governador, sr. prefeito, sr. presidente da Riofilme, sr. diretor da Rio Film Comission (que já foi do escritório da MPAA aqui no Brasil)? É isso que uma Film Comission faz. Não é dar o meu, o seu, o nosso dinheiro para produções estrangeiras que vem filmar no Rio, mesmo as que tiveram dois terços de suas cenas externas filmadas em Porto Rico, e que só tiveram partes de paisagens filmadas no Rio para dar uma "cor local" (Velozes e furiosos 5). E espero que a Film Comission tenha cobrado do "engraçadíssimo" Sylvester Stallone (Os mercenários) o dinheiro que deviam a uma produtora brasileira, que trabalhou apoiando a produção do filme no Rio. Ou será que ainda estão dando o beiço?
Puxa, nem o Mayor's Office of Film, Theatre & Broadcasting (a Film Comission de lá) financia os filmes de Woody Allen realizados em Nova York. Por que temos de inventar esta moda?

Um comentário:

  1. Oi, Antônio!
    Tudo bem?
    Falando em Film Commission, você viu essa iniciativa: http://www.latamcinema.com/entrevista.php?id=94
    Achei muito interessante e necessário - pena que há poucas informações - e má divulgação...

    Abraços,

    Natalia
    http://duasoutrescoisasqueeuseidele.wordpress.com

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